quinta-feira, setembro 16, 2004




A Europa dos Homens


"Mainstreaming" é o nome do processo que na sequência da entrada em vigor do Tratado de Amesterdão, compete à Comunidade promover a igualdade entre mulheres e homens. Com efeito, um dos objectivos da Comunidade consiste em eliminar as desigualdades e promover a igualdade em todas as suas actividades.
A legislação comunitária confere ao trabalhador o direito de auferir remuneração igual por trabalho de valor igual, ou seja, uma mulher (ou um homem) que desempenha uma tarefa, ainda que diferente, seja tão exigente como outra desempenhada por alguém do outro sexo, deverá receber idênticas remuneração e usufruir dos mesmos benefícios, a menos que se justifique uma diferenciação por motivos não discriminatórios.
Apesar da Comissão Europeia contar com a maior representação feminina de sempre, será a igualdade dos géneros uma verdadeira preocupação para os europeus? Os cidadãos europeus são unânimes em reconhecer a igualdade de oportunidades como uma prioridade de acção da U.E. Todavia, a Europa ainda está longe de ser um modelo na luta contra a desigualdade entre homens e mulheres, apesar dos avanços políticos, o sexo feminino ainda ocupa uma posição secundária na sociedade europeia.
"Nos últimos anos foram criados 12 milhões de postos de trabalho na Europa, dos quais 80% foram preenchidos por mulheres. É a primeira vez que tantas mulheres conseguiram emprego em tão curto espaço de tempo", declarou Anna Diamantopoulou, ex-comissária da UE para assuntos sociais e de mercado de trabalho.
A evolução é notável e significativa, num problema que ultrapassa a mera criação de postos de trabalho e formação adequada, a discriminação é fruto de séculos de tradição e história, que sempre reduziram o papel da mulher à função de mãe e guardiã do lar, se nas franjas mais instruídas e informadas das sociedades europeias a permeabilidade das mulheres vem ganhando força, nas populações mais ligadas à tradição e aos costumes essa aceitação é difícil, num mundo sempre tido como masculino, singrar em algumas profissões torna-se muito difícil para as mulheres, não pela natureza do seu trabalho mas antes pelos condicionalismos que lhes são impostos.
Contudo, os problemas não se situam apenas ao nível da obtenção de um emprego, mas também na disparidade na remuneração auferida, nos órgãos públicos, a diferença é relativamente pequena, de 16%. No sector privado, sobe para 24%, e se o trabalho exigir qualificação profissional, a diferença de salário atinge até 28%. A discrepância é maior ainda nos cargos de chefia. Uma mulher pode ganhar 35% a menos do que seu colega, exercendo a mesma função. Se tivermos em conta que em muitos países a situação da mulher é bem mais precária, estes dados até poderiam ser satisfatórios.
A presença das mulheres no Ensino Superior é cada vez maior nos países europeus, chegando mesmo a ultrapassar a frequência dos homens, esta situação deixa-nos antever que o futuro reserva às mulheres um papel cada vez mais relevante nos órgãos de gestão, nas grandes empresas e em todos os sectores tradicionalmente dominados pelo sexo masculino.
Parece, todavia, faltar na Europa uma infra-estrutura adequada para oferecer à mulher condições de competir no mercado dominado pelo sexo masculino . Talvez o cerne da questão se centre nos obstáculos impostos à conciliação do emprego e da família, a falta de creches, jardins-de-infância e instituições do género dificulta o duplo papel de mãe e profissional, o que gera inevitavelmente as baixas natalidade que assistimos na Europa. Maiores apoios à maternidade trarão sem dúvida mais filhos, e aumentaram as preocupantes taxas de natalidade europeias. É necessário proteger as mulheres, as mães e as esposas, num processo fundamental para a dignidade e avanço das sociedades humanas, é preciso perceber que a mulher não depende mais do homem, quer a nível económico quer a nível profissional, mas que tem também os seus sonhos, ambições e desejos, que são muitas vezes condicionados pela própria maternidade, é necessário criar condições para que tal não prejudique de alguma forma o seu percurso profissional e a dignifique como mãe, mulher e profissional.
Os esforços têm sido muitos, porém, continuam a ser insuficientes, por todo o mundo as mulheres continuam a ser violentadas e privadas na sua liberdade. Segundo um estudo da Amnistia Internacional, realizado em 50 países, uma em cada três mulheres, foi abusada sexualmente ou violentada, no curso de sua vida; existem mais de 60 milhões de mulheres desaparecidas, vítimas de abortos selectivos por terem bebés do sexo feminino, e todos os anos milhões de mulheres são violentadas pelos seus parceiros, parentes, amigos, colegas, soldados e membros de grupos armados. Esta realidade não é assim tão distante, a Turquia, candidata à entrada na U.E viola claramente os direitos humanos básicos das mulheres. Os casos de infidelidade, são por exemplo , punidos com cativeiro, prática forçada de suicídio e até ao assassinato de mães, irmãs, filhas, cunhadas e primas pelos homens da família . Pior ainda é o facto das autoridades policiais, judiciais e políticas não considerarem estas mulheres como vítimas e as punições são justificadas por factores sociais, ligados à religião, cultura e até mesmo raça.

Nelson Ventura

Posted by Hello

2 Comments:

At 9:23 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Men of quality respect women's equality!!!
Não deixa de ser um facto que as mulheres continuam sujeitas a muitas situações de desigualdade, muitas delas devidas ao facto de a maternidade não ser compatível com a competividade do mundo actual requere por não haverem os apoios necessários nesse sentido. Daí sejam uma realidade dados q nos indicam que as mulheres experienciam a maternidade mais tarde, que muitas delas excluem essa experiência em favor da sua carreira,...
Outra questão que foi abordada e que eu achei importantíssima foi a da violência a que as mulheres são sujeitas. Se é verdade que a realidade anterior faz parte de sociedades ocidentais e ditas modernas, a questão da violência faz parte em menor escala dessas sociedades mas predomina sobretudo em sociedades menos avançadas e mais conservadoras. É necessário perceber que a solução passa por uma educação da população para a igualdade de sexos, para que que o tráfico de humanos (que afecta sobretudo criaças e mulheres do sexo feminino) pare, bem cm a mutilação genital deixe de ser prática aceite, assim como outras situações.
Gostei do que li e é cm referi no inicio fica mto bem aos homens reconhecerem estas causas. =)

 
At 11:12 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Realmente é triste que as coisas ainda assim o sejam, quantas mais coisas serão preciso provar para nos reconhecerem a igualdade?

 

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