sexta-feira, outubro 15, 2004

Personalidade do Mês de Outubro



O General Sem Medo



Humberto Delgado nasceu no dia 15 de Maio de 1906, em S. Simão da Brogueira, Torres Novas, e foi, no seu tempo, o mais novo e um dos mais brilhantes generais das Forças Armadas Portuguesas. No seu percurso militar teve uma magnífica carreira, cheia de incidentes e coberta de muita glória. Conviveu, quer com a chefia de Sidónio Pais, quer com a ditadura salazarista que, mais tarde, o demitira das
Forças Armadas.
Foi um extraordinário militar, astuto e exímio político e escritor. Frequentou o Colégio Militar, cujo curso concluiu em 1922, ingressando na Escola Militar, onde tirou os cursos de Artilharia de Campanha, em 1925;
de Piloto-Aviador, em 1928 e de Estado-Maior, em 1936. Foi promovido ao posto de brigadeiro em 1946 e ao de general em 1947.
Foi um escritor de génio, dentro da sua convicção e no gosto que
tinha na verdade e no perfeito cumprimento dos deveres como cidadão e como político. De entre os seus escritos, destacam-se os livros tão polémicos "Da pulhice do Homo Sapiens" e o "Manual da Legião Portuguesa". Embora tivesse servido a Ditadura em alguns cargos, vindo da América, onde desempenhou o lugar de adido militar, opôs-se corajosamente à Ditadura e a Salazar, já que pela vivência e pelas fortes convicções se converteu à Democracia política e, nas eleições presidenciais de 1958, sendo general da aeronáutica candidatou-se, pela oposição, tendo contestado os resultados eleitorais que, fraudulentamente, deram a vitória ao almirante Américo Thomaz.
Demitido das Forças Armadas encabeçou, no estrangeiro, o movimento de oposição ao governo português. Trabalhou muito no estrangeiro, no campo político e na tentativa de modificar as coisas no seu País. O exílio, porém, é do mais dramático que se pode viver e foi uma vítima de privações, de intolerâncias, de perseguições e, finalmente, de uma armadilha sabiamente montada pela PIDE, que o conduziu à fronteira portuguesa, perto de Badajoz, em Villanueva del Fresno, onde, em 1965, foi assassinado, por ordem da Ditadura, assim como a sua fiel secretária, a brasileira Arajaryr Moreira Campos.

OBVIAMENTE, DEMITO-O...

O Café Chave de Ouro está repleto. Estamos a 10 de Maio de 1958, a um mês das eleições para a Presidência da Republica. Primeiro acto público com a presença do Candidato Humberto Delgado depois de iniciado oficialmente o período eleitoral.
Surge a primeira pergunta, do correspondente da France Press.
"Qual a sua atitude para com o Sr. Presidente do Conselho se for eleito?"
E a resposta, imediata, enérgica, sem uma hesitação, sem um tremor:
"Obviamente, demito-o".
É difícil acreditar no que estamos a ouvir. Mais que uma frase, é uma bomba. Uma revolução. Por terra a muralha que se opõe ao sacrilégio de dizer em público palavras agressivas ou menos respeitosas para com o "Chefe Supremo".
Rebentar da bomba que verdadeiramente inicia o caminho que o introduz na História, e lhe carreia o cognome de "General sem Medo".
"Sem medo" contagiante que liberta de muitos medos. E cria outros que o tempo mostrará.


Posted by Hello

2 Comments:

At 8:28 da tarde, Anonymous Anónimo said...

A história é realmente feita por pessoas, acções, atitudes de coragem. Aqueles que por uma razão ou outra se indignam e mostram o seu descontentamento pela ordem instituída.
Que este exemplo nos sirva de lição...

 
At 3:25 da tarde, Anonymous Anónimo said...

O General Humberto Delgado foi uma personagem forte que tentou contariar os estado das coisas e a quem o Estado Novo conseguiu calar, infelizmente ainda nos calam aos poucos, o poder instituido vai calando quem o contesta, olhem o Marcelo Rebelo de Sousa, não fo ele também calado.

J.P Ferreira

 

Enviar um comentário

<< Home