quarta-feira, novembro 09, 2005

O que mudou em Abu Ghraib


Posted by Picasa

“Iraq is free of rape room and torture chambers”

“Because we acted, torture rooms are closed, rape rooms no longer exist, mass graves are no longer a possibility in Iraq”


George W. Bush

O que mudou em Abu Ghraib

Sob o domínio das forças da Coligação, a prisão de Abu Ghraib, foi renomeada de Baghdad Central Confinement Facility (BCCF) ou Baghdad Central Correctional Facility.
Com a queda do regime, o vasto complexo prisional, então deserto, sofreu uma reestruturação, sendo-lhe retirado tudo o que era possível, incluindo portas e janelas. As autoridades da Coligação ordenaram a pavimentação do chão, a limpeza das celas, das casas de banho e dos chuveiros e a construção de um novo centro médico. A prisão de Abu Ghraib tornou-se então uma prisão militar dos EUA.

Em Junho de 2003, a general Janis Karpinski, foi nomeada para comandar a 800ª Brigada da Polícia Militar, e foi posta no comando da prisão militar de Abu Ghraib, a general Karpinski, era a única mulher no comando, em cenário de guerra. Apesar da sua experiência comprovada, Karpinski nunca tinha gerido um sistema prisional, e estava agora no comando de três grandes prisões, 8 batalhões e 334 soldados, a maior parte deles, tal como ela, não tinham qualquer experiência, no tratamento de prisioneiros.

A general Karpinski, aceitou com entusiasmo o cargo, e em Dezembro de 2003, afirmava ao jornal S. Petersburg Times, que as “condições de vida dos prisioneiros em Abu Ghraib, eram melhores do que nas suas casas, e que temia que muitos não quisessem sair da prisão”.

A maioria dos prisioneiros, incluindo mulheres e adolescentes, eram civis, capturados nas operações militares e nos pontos de controlo das tropas da Coligação. Os presos de Abu Ghraib, podiam ser definidos segundo Seymour Hersh, em três categorias: criminosos comuns; detidos por motivos de segurança, acusados de cometerem crimes contras as forças da Coligação; e um número reduzido de suspeitos acusados de liderarem a insurreição contras as forças da Coligação.

A divulgação das fotografias
O dia 28 de Abril de 2004 foi fundamental para o conflito dos EUA no Iraque. Nesse dia, a CBS news divulgava as primeiras fotografias dos abusos perpetrados pelos soldados americanos, na prisão de Abu Ghraib em Bagdade. As fotografias de conteúdo chocante, tiradas pelos soldados americanos destacados no Iraque, impressionaram a comunidade internacional.
Dois dias depois, o New Yorker publica um artigo da autoria de Seymour Hersh, descrevendo a situação dos prisioneiros em Abu Ghraib, este artigo gerou inúmeras investigações internas sobre as prisões e os centros de detenção extra territoriais, criados pela Administração Bush, para deter suspeitos de terrorismo, desde Guantánamo ao Afeganistão.

Cerca de 11 investigações foram efectuadas, e foram produzidas centenas de documentos, testemunhos, provas em emails, etc. Foram levados a tribunal cerca de 45 soldados e 23 foram afastados do Exército.

A dimensão dos abusos nunca foi inteiramente conhecida, mas muitos relatórios evidenciam terem ocorrido crimes de violação de mulheres e abuso sexual de menores.

Não há dúvidas que os abusos em Abu Ghraib mancharam a imagem do Exército norte americano, o que é menos claro é o grau de responsabilidade desses mesmos abusos, e a forma de como eles minaram os esforços para estabelecer a paz no Iraque e até mesmo vencer a guerra. Os EUA sofreram um pesado revés quando as fotografias se tornaram públicas. Várias cópias foram distribuídas desde Marraquexe a Jacarta, espalhando pelo mundo árabe um ódio contra os EUA, baseado na ideia de que os estes são corruptos, ambiciosos e com um intuito de humilhar os muçulmanos e ridicularizar os seus valores.
As fotografias foram um forte incentivo para a insurreição no Iraque, minando o papel norte-americano e aumentando o risco enfrentado pelos soldados no dia a dia.
A este respeito o jornalista Phillip Carter afirma “se Osama Bin Laden tentasse desencadear uma operação com vista a despertar o ódio no mundo árabe, não teria tido tanto sucesso como tiveram estas fotos.”

Segundo o mesmo jornalista “os estragos que Abu Ghraib causaram, poderiam ter sido minimizados se as responsabilidades tivessem sido apuradas de forma sincera, pública e honesta, em vez disso a Administração Bush procurou resumir as responsabilidades a um conjunto de “ovelhas negras” de soldados norte-americanos, procurando rapidamente retirar a notícia das primeiras páginas dos jornais a tempo da campanha presidencial.”

Foi desencadeada uma vasta investigação sobre o sistema prisional de Abu Ghraib, autorizado pelo Tenente General Ricardo S. Sanchez, o comandante principal no Iraque. Um relatório de 53 páginas, obtido pelo jornal The New Yorker, elaborado pelo Major General M. Taguba, foi concluído em Fevereiro.
As suas conclusões sobre o sistema prisional foram devastadoras, especialmente porque Taguba constatou que entre Outubro e Dezembro de 2003, ocorreram abusos sádicos e brutais sobre os prisioneiros em Abu Ghraib, estes abusos foram perpetrados pelos soldados da Companhia 370 da Polícia Militar.

Existiam provas concretas sobre as violações, para suportar as alegações de Taguba, como fotos e vídeos, que Tabuga preferiu não incluir no relatório devido ao carácter brutal das imagens.
Estas imagens acabaram por ser divulgadas em parte, pelo programa 60 minutos da CBS, mostrando a crueldade das torturas, com os militares a humilharem os prisioneiros, forçando-os a submeterem-se a posições degradantes. Foram identificados de imediato 6 suspeitos: o Sargento Ivan L. Frederick II, o Especialista Charles A. Graner, o Sargento Javal Davis, a Especialista Megan Ambuhl, a Especialista Sabrina Harman e o Soldado Jeremy Sivits, submetidos a julgamento por conspiração, má conduta, crueldade com os prisioneiros, maus tratos e actos indecentes. Uma sétima suspeita, a Soldado Lynndie England, foi transferida para Fort Bragg, na Carolina do Norte, EUA, depois de ter engravidado.

Essas fotografias chegarão às mãos dos investigadores dos crimes do exército meses depois de serem tiradas, quando o soldado Joseph Darby, enviou uma carta anónima com um CD-ROM, contendo fotografias dos abusos em Abu Ghraib.
No julgamento do Sargento Frederick. Uma testemunha governamental, o agente Scott Bobeck, membro da Divisão para a Investigação dos Crimes do Exército, contou ao tribunal que “a investigação começou quando o Especialista Darby teve acesso a um CD com fotos de prisioneiros nus, Darby escreveu inicialmente uma carta anónima à Divisão, depois prestou um depoimento, sobre as acções que ele achava incorrectas.”