Palavras Soltas


Muitos se apressaram a justificar o não francês, com razões de política interna, e se a históra comprova que a política externa sempre influenciou a política interna, este motivo pode merecer algum apreço, e a verdade é que as políticas de Jean Pierre Raffarin estavam longe de satisfazer os franceses, associado também ao medo da entrada em força da China no mercado mundial,. Todavia, fundamentar o não de um país que sempre se assumiu como o paladino da democracia e do projecto europeu, num simples descontetamento interno, não é mais do que passar um atestado de burrice ao povo francês. Sem dúvida que as questões europeias estão longe da decisão consciente da maioria dos europeus, se a política em geral se afasta cada vez mais dos cidadãos, as políticas europeias estão a anos de luz.
O Projecto europeu, que procura “Unir na Diversidade”, parece cada vez mais estar minado nas suas raízes. Feito na sua maioria à margem das populações, a Europa foi-se construíndo vazia de conteúdo, o que é uma União sem cidadãos? Um projecto ferido de legitimidade. A integração tem de começar nas suas células primárias, na unidade base da sua composição, fundar princípios e direitos comuns, longe dos cidadãos é perpetuar o erro.
Outro aspecto que me preocupa foi a rápida decisão dos líderes europeus, em contornarem o não, procurando decidir a nível governamental alguns aspectos menores da Constituição, quem votou não, votou bem ou mal, conhecendo ou desconhecendo, na rejeição em bloco da Constituição, passar por cima disto, mesmo que em aspectos menores, parece-me pouco coerente com os princípios democráticos. Para entrar em vigor, o novo Tratado deveria ser ratificado por todos os Estados Membros, eram estas as regras do jogo, alterá-las depois dos dados lançados, não é mais do que pura e descarada batotiçe.
Sempre fui um Eurofórico, acreditando numa Europa em que o jogo era de soma positiva para todos os que dela faziam parte, não me parece que as alterações do novo tratado sejam de tal forma supranacionais que ponham em causa a soberania dos Estados-Membros, embora a linguagem constitucional assuste muitos Eurocépticos, a verdade é que a raízes do problema reside afinal no desconhecimento, o medo em relação à liberdade económica, à perda de direitos sociais, à imigração, ao desemprego, a arrogância da classe política, o pensamento neoliberal, o fantasma da imigração, a América, as teorias conspirativas em relação a Bruxelas, o medo da China e todo um conjunto de ideias pré fabricadas que compramos, levam-nos a posições eurocépticas ou eurofóricas, quando afinal o que precisamos é de ser EUrolúcidos.